“Me leva amor, me leva amor… por onde for quero ser seu par…”

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Quando soube que teríamos que nos mudar novamente fiquei muito triste. Foram tantos motivos que me deixaram triste, tentei enumerar alguns:

  1. Outra mudança em menos de seis meses.

  2. Tudo que tinhamos imaginado para esse lugar não daria para ser finalizado. Viemos para cá para ficar no mínimo cinco anos, assim, meu marido poderia ter uma oportunidade em uma área nova para ele, as crianças aprenderiam chinês e eu também. Seria ótimo para o nosso futuro.

  3. Deixar uma cidade muito boa para viver.

  4. Mudar as crianças de colégio novamente.

  5. Ficar vários meses vivendo sem nossas coisas, que vem na mudança.

  6. Desempacotar tudo quando chegar.

  7. Ninguém da minha família teve tempo de visitar.

  8. Sair da rotina das crianças, que finalmente tinha conseguido impor.

  9. Ter mais uma viagem grande, com duas crianças e duzentas malas…

  10. Não tivemos tempo para conhecer nada da China.

Bom, já deu para ter uma idéia…

Quando soube que voltaríamos para Myanmar então, foi uma sensação muito estranha. Uma sensação de que estaríamos voltando no tempo e que o tempo que passamos na China seria em vão, um desperdício de vida que se não tivéssemos deixado Myanmar estaríamos crescendo lá, construindo amizades, as crianças não teriam interrompido a escola…

E depois, foi a maldição do Chico Xavier, que disse que “Isso também passa…”. Ele tinha um quadro na parede com essa frase para lembra-lo que os momentos ruins passam, mas que também os momentos felizes passam, enfim, tudo passa. Li uma vez só e acabei ficando com isso para sempre na cabeça. Só que eu só lembro dessa frase nos momentos felizes… e isso acaba abafando um pouco a felicidade.

Semanas antes de saber que iríamos nos mudar, tinha dito ao meu marido que há muito não era feliz como estava sendo em Yinchuan. E no fundo só lembrava do “Isso também passa…” e aí passou mesmo!!! A tristeza chegou!

Mas depois a ficha caiu! Eu pensei bem e vi que, realmente, infelizmente não deu certo na China para o trabalho do Paolo. Mas nunca que esse período vai ter sido em vão. Como eu disse antes, há tempos não era tão feliz como fui lá. As crianças evoluíram muito na escola, no inglês. Foi muito bom para nós. Fizemos coisas que nunca havíamos feito. Aprendi como me virar em um lugar onde não conseguia me comunicar com quase ninguém. Conhecemos uma nova cultura. Fizemos poucos, mas fizemos amigos.

E ainda, voltaremos para um lugar maravilhoso, onde fizemos amigos, as crianças voltarão para a mesma escola (onde eram muito queridos), onde quase todo mundo fala inglês, agora minha família terá oportunidade de visitar…

Enfim, acabei ficando feliz por tudo isso, por termos aproveitado as oportunidades que nos surgiram. Por não termos deixado de tentar!

Como disse Raul Seixas: “Tente e não diga que a vitória está perdida, se é de batalhas que se vive a vida. Tente outra vez!”

Tudo isso só me confirmou que estando junto com meu marido e meus filhos e tendo minha família e amigos no coração, a gente será feliz em qualquer lugar. Por isso o título desse post. Uma canção que eu prefiro na voz da Beth Carvalho e deixo aqui para vocês ouvirem.

Andança

Helan Mountain

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Fomos visitar uma fenda nas montanhas Helan em Yinchuan. Uma paisagem surreal, muita pedra que parece que foi recortada a mão. Um rio que passa no meio da montanha, uma coisa linda! Sem contar que estávamos no meio do inverno e estava tudo congelado. Tinha uma cachoeira muito alta, que estava completamente congelada (tenho que pesquisar mais, mas acho que ela tem 200m de altura), a água fica igual a um glacê em cima da pedra, paradinha.

Cachoeira congelada

Tem uma lenda que diz, que foi um gigante que abriu aquela fenda na montanha e deixou pegadas de pedra no meio do rio. E a mulher que pisar nessas pegadas engravidará. Não sei quanto a gravidez, mas que parece que alguém abriu aquela fenda na montanha, isso parece mesmo! É muito impressionante como as pedras são talhadas, parece que alguém fez aquilo! Quanto a gravidez, saberemos mais tarde, porque eu subi na pegada do gigante…

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Esse lugar é um parque fechado, chamado “Helankou Rock Engravings Park”, que você paga entrada para ir. Lá tem escritas nas pedras de cinco mil anos. É um lugar histórico, prova da civilização milenar chinesa. É uma pena o que eles fizeram com o lugar. Não me entenda mal, o parque é muito limpo, bem cuidado e bonito. Mas como um parque, eles deveriam preservar tudo, intacto. Deveriam sim deixar visitantes, fazer passarelas e colocar impedimentos para as pessoas não tocarem nas inscrições, principalmente para não fazerem novas inscrições. Mas o problema é que as passarelas que eles fizeram são todas imitando pedra. Inclusive as lixeiras imitam pedra. As lixeiras são exatamente iguais as pedras do local, são feitas de fibra de vidro para uma imitação perfeita, só com um buraquinho para jogar o lixo dentro.

Pedra mapa1

Em consequência, a gente, que é leigo, não sabe o que é original e o que não é. Não tem como saber se as inscrições nas pedras são milenares ou se foram feitas ontem por um visitante. Coisa bem possível já que não há ninguém do parque olhando. Também não há nenhum anteparo entre as pessoas e as inscrições. Assim, qualquer pessoa pode tocar, raspar, estragar ou mesmo produzir suas próprias inscrições. Na montanha não tem quase nenhuma placa falando sobre as inscrições. Só dentro do museu é que tem placas explicativas dizendo de que época são e por qual povo foram feitas. Mas o museu também segue a linha da fibra de vidro, então também é bem confuso.

inscricoes1

inscricoes2

Meu marido acabou de me avisar que tinha gente olhando sim. Disse que tinham várias câmeras escondidas em pedras de fibra. Ele foi muito observador, porque eu não vi nada. Não estou dizendo? Não da para saber o que é verdade e o que é mentira. Mesmo que tenham as câmeras, não vi como alguém chegaria a tempo para prevenir um estrago de um visitante, porque o lugar é longe de onde ficam as pessoas. A não ser que tenham guardinhas escondidos em pedras de fibra de vidro…

Deveriam fazer coisas diferentes, como passarelas de madeira, anteparos de vidro… coisa que contrastam com o lugar, que sejam diferentes, que deixariam o lugar bonito da mesma maneira e não deixariam os visitantes confusos, como eu fiquei.

Bom, tirando a revolta contra essas coisas sem noção. A Helan Montain é um lugar maravilhoso. Uma paisagem única. Dessas coisas que a gente nem sabe que existe, mas quando vê, acha que todo mundo alguma vez na vida tem que ir lá.

Seguem mais algumas fotos desse lugar mágico:

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Um cabrito montanhês.

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Dessa vez um bebendo água num buraquinho no gelo.

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Conseguem achar o cabrito aqui?

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Montanhas cortadas.

montanha3Acabei achando uma câmera nessa foto aqui.

Carimbos

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Na China, em todo lugar usam-se carimbos. As pessoas carimbam tudo, varias vezes, em todas as folhas. Carimbo sempre vermelho que é a cor da sorte. No banco então é uma carimbação só.

Em Yinchuan eles vendem carimbos feitos de pedra da montanha Helan. Eles fazem pequenas esculturas e escrevem o que você quiser no carimbo, na hora que você compra. Exatamente igual as inscrições nas pedras que vi na visita à fenda da montanha Helan. Eles tem até um livro de como fazer os caracteres milenares, já não mais usados.

O pessoal de Yinchuan tem muito orgulho de suas pedras. O motorista que nos levou fez questão de escolher quais esculturas de pedra eu poderia comprar. Ele disse que tem muita falsificação, que as pessoas pintam as pedras para que fiquem iguais as de lá. Não vi diferença nenhuma entre as que ele escolheu e as outras, a não ser no preço. Todas pareciam ter vindo do mesmo lugar, o mesmo peso, mesmo acabamento, mesmas cores… não vi vantagem nenhuma em ter a pedra original. Afinal o que mais importava para mim era a beleza do carimbo ou da escultura e a lembrança do lugar. Porque pedra é pedra, dura para sempre, sendo original ou falsa…

Seguem algumas fotos do vendedor fazendo um dos carimbos que escolhi:

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Carimbo1a

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Saúde

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Sorte e amor

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Escola e saúde

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Finalmente achei a escola! Dessa vez eu não pedi o passaporte dos professores, só de ouvir eles falarem dava para ver que eram ingleses, um sotaque indiscutível.

Consegui também fazer um acordo com a escola de deixar as crianças mais tarde e buscá-las mais cedo. Assim eles não precisariam tomar café, nem jantar na escola e não ficariam tanto tempo por dia lá.

Então estava tudo quase perfeito. Aí descobri que para que eles pudessem se matricular (mas isso para todas as escolas chinesas) eles teriam que fazer uma bateria de exames. Mais uma semana de espera para as crianças entrarem na escola…

Fui com eles em jejum no dia seguinte. Todos os exames puderam ser feitos no mesmo hospital. Era um hospital público, tudo pago, mas uma taxa simbólica. Estava bem cheio, tinha fila para tudo. Não tinha diferença para crianças ou adultos. Eles fizeram exames de vista, odontológico, mediram peso, altura e pressão e tiraram sangue.

Para todos esses exames ficamos em filas, os médicos com as portas abertas, na maioria, e as filas começavam dentro do consultório. É tudo muito rápido, a rapidez chinesa. Quando eu começava a pensar em como seria, já tinha acabado.

Na fila para a coleta de sangue estava uma confusão, muita gente. Todo mundo encasacado, porque estava muito frio. Pessoas querendo passar na frente… até que chegou a vez da minha filha de três anos. Normalmente é muito difícil achar a veia dela, mas a enfermeira fez num segundo, com aquele bando de gente da fila na sala olhando e empurrando o próximo. O próximo era meu filho de dois anos. Minha filha chorando que tinha tomado a injeção, eu tendo que tirar os casacos do meu filho, aquela gente toda… uma confusão só! Aí a enfermeira manda deitar ele na mesa dela. Até aí não vi problema. Mas aí ela enfia a agulha na jugular dele. E não é uma seringa, é só a agulha direto no tubinho.  Foi tudo em um segundo, não deu tempo nem de eu gritar “Sua maluca!!!”, já tinha acabado e o Paulo já estava chorando e as pessoas empurrando a gente para sair da sala.

Uma loucura! Ainda mais porque ninguém falava inglês. Se não fosse uma amiga minha chinesa, não teria conseguido fazer exame nenhum. Ela não fala inglês muito bem, então me traduzia pouca coisa… eu estava boiando. Até hoje eu não sei o que deu no resultado dos exames, saiu depois de uma semana, mas tudo em chinês.

Mas acho que deu tudo normal, porque eles foram aceitos na escola. Depois de três meses e pouco na China, finalmente as crianças começaram a estudar!!!

Exames

Escolas

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O Estudante

A maioria das escolas que a gente vê ao passear por Yinchuan são enormes e muito bonitas. São prédios grandes com campos de futebol, de basquete… parecem ser escolas completas. E a maioria pública. Fiquei contente de ver e saber que meus filhos poderiam estudar numa escola daquelas.

Mas acabei descobrindo que essas escolas são só a partir dos cinco anos de idade. Para as crianças com menos de cinco anos, como meus filhos, não tem escolas públicas, são creches ou escolas particulares.

Demorei meses para achar uma escola para as crianças. Eu queria uma escola que desse aulas na parte da manhã ou da tarde e que fosse internacional, ou seja, o idioma falado lá seria o inglês. Visitei várias escolas, vááááárias…

O primeiro problema foi o horário. Não existe em Yinchuan escola que seja meio período, pelo menos eu não achei… e estou falando com a certeza de todos os chineses. Ô povo para ter certeza de tudo! Nunca ouvi um “não sei” de um chinês. Ou eles sabem ou não existe!

As escolas em Yinchuan normalmente são de 7:30am até as 5:30pm. As crianças tomam café, almoçam,  jantam e tiram uma soneca de duas horas depois do almoço.

Acabei sucumbindo ao horário integral e resolvi procurar uma escola que fosse pelo menos internacional. As escolas chamadas internacionais daqui são aquelas que tem aulas de inglês, independente se for só uma vez ou todos os dias da semana. Quase nenhum professor fala inglês, normalmente eles tem professores estrangeiros para dar essas aulas. Então, praticamente o tempo todo só falam chinês. Meus filhos ainda nem aprenderam inglês direito (antes de Yinchuan, morávamos em Myanmar – leia o blog clicando aqui – e as crianças que só falavam português, começaram a aprender inglês), não tinha como colocá-los numa escola que só fala chinês.

Foi difícil, mas acabei encontrando uma que parecia maravilhosa!  Toda novinha, com 4 professoras por turma, de todas, pelo menos uma falava inglês e eles tinham uma aula de inglês por dia com professores estrangeiros. Salas de aulas enormes, no primeiro andar, bem iluminadas por várias janelas, cheias de brinquedos, com muito espaço para atividades e mesinhas do tamanho das crianças, além de banheiros dentro da sala de aula. Muito legal mesmo!

Depois de 3 meses procurando, estava certa que era aquela. Fui logo inscrevê-los. Enquanto esperava o contador, que ainda não havia chegado, vieram me dizer que os professores estrangeiros eram brasileiros. Eu quis logo conhecer, já pensou que perfeito? As crianças poderiam aprender inglês de alguém que fala português!

Os professores chegaram e eu disse “Oi”, eles me ignoraram e falaram inglês. Eram dois negros, com sotaque bem pesado, que não era igual ao meu e muito menos de americanos. Disseram que eram primo-irmãos (seja lá o que isso quer dizer…), que a mãe deles que era brasileira e que não falavam português porque foram criados nos EUA. Eles mesmo não me disseram que eram brasileiros, mas também não negaram. Pareciam ser muito gente boa, mas se esquivaram de todas as perguntas que fiz relativas ao Brasil. Fiquei com uma pulga gigante atrás da orelha. Liguei para o meu marido, que mandou pedir o passaporte deles, que se fosse passaporte brasileiro poderia ser falsificado, porque o passaporte brasileiro antigo sofria muita falsificação.  Pedi então os passaportes… As moças da escola não só  trouxeram os passaportes, como todas as suas qualificações. Eles eram africanos, com diplomas em universidades africanas e pós-universidades do Canadá, cada um em uma diferente. Os dois, apesar de serem irmãos por parte de pai, não tinham o mesmo sobrenome e nem nasceram no mesmo lugar (sem contar que não pareciam nada um com o outro). Muito esquisita toda a história.

Não entendi porque eles não me disseram: “Ah não somos brasileiros, somos africanos, quem te disse isso? As moças devem ter confundido porque falamos pra elas que nossa mãe era brasileira…”

Pode ter sido tudo um grande mal entendido, afinal, eles não tem obrigação nenhuma de ficar falando da vida deles para qualquer pessoa. Mas, que alguém estava mentindo, estava, porque eles não eram brasileiros. E foram pessoas da escola que me disseram isso, eu mesmo nem havia perguntado de onde eram os professores, até porque a nacionalidade deles não faria nenhuma diferença para mim…

Talvez a escola tenha dito isso porque tem muitos chineses que tem preconceito contra africanos, muitos nunca viram um negro na vida… como a escola era nova e precisava de alunos achou que a solução seria mudar a nacionalidade deles. Talvez também os professores estivessem mentindo por conta própria… Mas o que ninguém nunca imaginou é que fossem encontrar verdadeiros brasileiros em uma cidade tão pequena da China.

Resumindo, nunca que eu iria colocar as crianças numa escola que não dá para confiar. E se eles nem fossem professores de verdade? Foi uma sensação horrorosa, porque eu me senti muito mal de toda essa desconfiança… e se eles forem mesmo pessoas honestas? Mas não tinha como arriscar, tive que procurar outra escola…

Trânsito

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O trânsito aqui em Yinchuan só não é pior do que o de Yangon, mas é terrível também. Apesar de que nunca vi nenhum acidente em Yangon e aqui já vi vários.

Por mais que tenham leis e multas, todo mundo faz o que quer. Se você não buzinar para mostrar que está ali, a pessoa nem olha, já vai entrando. Cruza a pista em qualquer lugar, mesmo uma pista dupla de quatro pistas cada lado. Quem estiver vindo que diminua a velocidade.

As pessoas atravessam em qualquer lugar, andam no meio dos carros… também, as ruas não foram muito projetadas para os pedestres atravessarem. Tem ruas de quilômetros de comprimento sem nenhum sinal de trânsito a vista.

Nós até que tentamos tirar a nossa carteira de motorista. Nos deram um livro de 500 páginas, em inglês, mas com uma tradução meio duvidosa,  para estudar para uma prova na qual teríamos que acertar 90% das questões. Eu até que tentei. Estava lendo uma questão que dizia o seguinte: “If a peasant is crossing the road, the driver shall slow down and yeld“. Confundi a palavra “yeld” com “yell”, que significa gritar. Então, eu entendia a frase assim: “Se uma pessoa estiver atravessando a rua, o motorista deve diminuir a velocidade e gritar.” Eu imaginei um chinês colocando a cabeça para fora do carro e gritando: “Sai daí, quero passar!!!” Imagina se eu ia fazer isso? Mas achei que essa situação seria possível, nem questionei muito, por isso nem percebi que tinha me confundido. Depois de várias outras questões com essa palavra é que me toquei que era “yeld” e não “yell”, “dar a preferência” e não “gritar”. Ah, agora sim!!! Os chineses não são tão loucos assim! Mas só de eu achar que poderia ser “yell”, vocês devem imaginar a loucura do trânsito.

Acabou que não conseguimos tirar a carteira de motorista porque nunca nenhum brasileiro tinha feito isso aqui e eles não sabem como equiparar as leis. Estamos esperando até hoje que eles consigam… até que com um certo alívio, porque dirigir nesse trânsito ninguém merece!!!

Desenho e imagem por Veronica Scalea

“… ninguém podia fazer xixi, porque pinico não tinha ali…”

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Se você não tem curiosidade de saber sobre os banheiros e a higiene dos chineses, não leia esse post. Meu marido achou um absurdo eu escrever sobre isso, e acredito que ele não será o único a achar isso, por isso resolvi avisar antes que comece a ler. Eu, por outro lado, teria curiosidade por isso escrevi.

Quando vim para a China, achava que aqui seria bem pior do que Myanmar em termos de limpeza. Mas tive uma boa surpresa! Aqui é bem limpo. As ruas são limpas e floridas. Ruas largas, com muitas pistas, inclusive uma pista separada para motos elétricas e bicicletas. Tudo mesmo bonito, limpo e bem planejado. Mudei bastante a minha visão sobre a China.

Mas nem tudo é perfeito! Enquanto as ruas e pisos de lojas e supermercados são impecáveis, os banheiros e as cozinhas são terríveis.

Os banheiros típicos chineses são aqueles com vasos sanitários que são direto no chão. Até aí tudo bem, nada impede que sejam limpos. Mas normalmente não são limpos não. O modo de usar esses vasos é se agachar (como se fosse num matinho), equilibrando-se para não cair no buraco. Por mais que você seja treinado, acho que não tem como não respingar nos pés fazendo xixi nessa posição. Então, se não houver uma limpeza a cada uso, imagina como não fica o banheiro?

Uma curiosidade é que não tem papel higiênico nos banheiros, nem nos shoppings mais caros. Se você não anda com lenço de papel no bolso, esta perdido! 

Normalmente nas casas tem o vaso normal, mas para compensar, quase nenhum banheiro tem divisão para o chuveiro. Quando você toma banho, molha o banheiro todo, depois tem que ficar passando rodo e pano ou deixa tudo molhado mesmo. Mas se precisar ir ao banheiro logo após o banho, vai molhar os pés. Talvez fosse assim porque os vasos eram no chão e aí quando a pessoa tomava banho já limpava o vaso. Mas agora não tem sentido molhar tudo…

Solução que encontramos para o nosso banheiro.

Uma vez chamei uma faxineira em casa. Ela limpou o chão que foi uma beleza. Mas quando olhei o banheiro, ela não tinha limpado a privada e nem a banheira. Como uma faxineira vai limpar a casa de uma pessoa e não limpa o vaso sanitário? Para mim era uma coisa básica, não achei que precisava avisar… Na segunda vez que a chamei, mostrei para ela como limpar a banheira e apontei para o vaso, para que ela fizesse a mesma coisa (não falo mandarim e nessa época ainda não tinha descoberto o Google Translate, então foi tudo na mímica mesmo). Acabou que ela limpou a banheira e não o vaso…

É claro que eu não posso generalizar, porque estou numa cidade pequena da China. Mas os banheiros públicos, de restaurantes, de shoppings e a minha faxineira não me deixaram com uma boa impressão!!!

Do mesmo jeito que os banheiros, as cozinhas são bem sujinhas. Um lenço de papel basta para tirar a gordura. Precisavam ver o fogão da casa que eu aluguei, quando cheguei achei que as bocas do fogão eram pretas, mas na hora de limpar, eu vi que no fundo de toda aquela crosta de gordura nojenta ele era metálico. Deve ter ficado uns bons anos sendo limpado só no papelzinho…

As seções de lenço de papel nos supermercados são gigantescas. Agora eu entendi porque os chineses gastam tanto lenço de papel. Além do uso normal do lenço de papel para assoar o nariz, enxugar as lagrimas, limpar o rosto, etc… o chineses sem papel higiênico nos banheiros públicos, fazendo limpeza de gordura só com papel e também sem guardanapos nos restaurantes… não tem outro jeito. Haja lenço!!!

Testemunho: Google translate mudou minha vida!

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Se o Google estivesse me pagando pra fazer propaganda, não sairia tão boa. Mas é verdade, o Google translate é a melhor ferramenta para quem vive em um país onde a língua e a escrita são completamente diferentes da sua.

Aqui em Yinchuan quase ninguém fala inglês. Tudo é escrito em chinês (mandarim). Então, é muito difícil se comunicar, se você não fala chinês. Eu até hoje não consegui entrar em um curso de mandarim, quero muito, mas não deu tempo ainda. Fora que é uma língua muito difícil de aprender, ainda mais para alguém como eu que não tem o ouvido afinado. Não sei distinguir um “sol” de um “lá”. Uma vez comecei um curso de chinês, ainda nem sonhava em morar aqui, e a professora falou que a primeira coisa que a gente aprende é que o mandarim tem 4 tons básicos, como no exemplo da palavra “má”, que dependendo do tom que ela for pronunciada significa 4 coisas diferentes. Então ela pronunciou os tons, que para mim soaram assim:

1°) “má”;

2°) “má”;

3°) “má”;

4°) “má”;

Vocês perceberam a diferença? Eu também não!

Até descobrir o Google translate eu só usava mímica (ninguém me vence mais no “Imagem e ação” agora!). Mas como usar mímica para dizer ao taxista aonde ir? (É, precisa usar taxi, porque ônibus você não tem a mínima ideia para onde vai e não tem metrô aqui). Ainda mais se você não consegue nem saber o nome de onde você quer ir porque está tudo escrito em chinês… e quando você sabe o nome, você não consegue pronunciar direito e ninguém te entende do mesmo jeito. Para voltar para casa é fácil, eu guardo comigo um papelzinho com meu endereço impresso em chinês, é só mostrar para o taxista. Até que o taxi aqui é bem barato, as distâncias mais longas que já peguei custaram no máximo 4 reais.

Nos restaurantes, para pedir comida, só em lugares com menus ilustrados com fotos dos pratos. Mesmo assim, a gente não sabe se pediu carne de carneiro, de boi, de burro ou de cachorro até experimentar (muitas vezes nem depois de experimentar…). Até hoje eu não sei se já comi cachorro… espero que não, mas se comi estava gostoso!

Eu me sentia mais ou menos uma surda-muda analfabeta. Não entendia nada que falavam comigo, não conseguia falar nada e não sabia ler nem escrever. Depois que conheci o Google translate, tudo mudou!!! Agora eu não entendo e não falo nada, mas já consigo ler e escrever! Eu escrevo em português e ele traduz para o chinês e eu mostro para a pessoa. É uma maravilha! Eu posso até tirar uma foto de alguma coisa escrita em chinês que ele traduz para mim. Cheguei a fazer uma lista em chinês para a moça que trabalha aqui em casa, que não fala inglês. Consigo fazer compras na internet em sites chineses, o Google translate traduz tudo.

Claro que ele não é perfeito. Uma vez fomos pedir a conta no restaurante e o famoso e universal gesto com a mão não é entendido aqui na China, aí ficamos sem saber o que fazer. Mostramos dinheiro, carteira, nada deu certo. Lembrei do meu super-hiper-mega-maxi Google translate e peguei meu celular imediatamente e digitei “conta”, mesmo assim a garçonete não entendeu, tentei falar o que estava escrito e ela me trouxe chá, depois trouxe água, até que alguém chamou alguém, que chamou alguém que falava um pouquinho de inglês e entendeu que queríamos a conta. Quase que a gente perde o dia todo no restaurante…

Se não fosse o Google translate eu assinaria assim:

impressao digital

Ni Hao!

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Chegando em Yinchuan, olhando do avião, parece que não tem nada, parece que é só deserto.

Chegamos em outubro e a temperatura estava 13°C. Um frio enorme pra quem acaba de chegar de Yangon, com temperaturas de quase 35°C. Mal sabíamos o que nos esperava quando no pico do inverno passamos por temperaturas de até -21°C.

Me surpreendi com a beleza e a limpeza do lugar. Antes de vir para cá achei que seria tudo muito pobre e sujo… essa era a impressão que tinha da China, com tantas notícias que a gente ouve de trabalho escravo, de pobreza… Mas aqui é completamente o contrário do que eu pensava. Tudo muito moderno, limpo, ruas largas e arborizadas. Muitos parques e espaços abertos com muitas esculturas, flores e luzes coloridas espalhadas pela cidade.

Fiquei impressionada e feliz de saber que estava errada!